segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Memórias Literárias: É como um filme! - Raí Fernandes Queiroz Alves- 8º ano D

Em 1956, quando tinha apenas doze anos, vim morar aqui em Pontes e Lacerda com toda minha família, nós viemos de Vila Bela - primeira capital de Mato Grosso. Aqui só tinha algumas casinhas de palha, não tinha nem energia. A melhor casa era a que foi construída por Marechal Rondon para instalar as linhas telagráficas que ligavam Cuiabá à Vila Bela. No mais era quase tudo mato, o que se tinha era o bairro Guaporé que ficava próximo ao rio. Onde hoje é centro da cidade, ainda eram sítios e nas proximidades de onde é o bairro Bela Vista e o bairro Morada da Serra era o local destinado à plantação de arroz, feijão, milho, etc.
As mulheres lavavam suas roupas no Rio Guaporé, além de se reunirem em grupos de quatro ou cinco, sempre tinha um homem armado acompanhando-as, pois nessa época havia índios na região que sequestravam as pessoas e até as matavam.
Um fato que me marcou muito foi por volta dos meus 16 ou 17 anos, quando fui à cavalo até Vila Bela fazer compras pois em Pontes e Lacerda não existia mercado. Na viagem de volta, para minha surpresa fui cercado por índios que queriam tomar as minhas mercadorias. Tinha até alguns índios com arco e flecha apontando para meu lado. Por minha sorte o Cacique - chefe da tribo - chegou e mandou que eles se retirassem, então só conseguiram levar o açucar e o fumo. Assim o pior de tudo foi apenas o apuro que passei. Mas que apuro!
Trabalho nessa época era muito difícil, não se tinha muitas opções, a maioria trabalhava arrancando raízes de poaia, uma raiz fina que se encontra no meio do mato e que era vendida para a fabricação de remédios. Em busca desta planta passava-se cerca de cinco a seis meses no meio do mato sem ir para casa, para conseguir no máximo de vinte a trinta quilos, dos quais recebiam alguns cruzeiros em troca.
Hoje quando olho para Pontes e Lacerda tudo passa como se fosse um filme em minha memória, vejo o quanto ela evoluiu, agora há várias oportunidades de trabalho, muitos mercados além de outras coisas, e até o campinho de futebol, quem diria, se tornou uma bela praça!

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